data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Renan Mattos (Diário/Arquivo)
Na política, o capital é construído e mensurado por meio de apoio e da capilaridade das relações estruturadas. Fora da política, costuma-se dizer que, para se manter dentro da função pública, são necessários dois quesitos: apresentar resultado (por meio de muito trabalho) e, ainda se possível, contar com o apoio dos servidores. Dentro da principal secretaria da prefeitura de Santa Maria, a da Saúde, isso é levado à risca pelo titular da pasta, Guilherme Ribas.
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Mesmo com boa aceitação interna, há, por parte dos vereadores que integram as CPIs com foco na saúde, um entendimento consensual: Ribas e o governo se valem dessa "afinidade" entre o secretário e servidores da saúde para "blindar" o governo das críticas em meio à pandemia, o que é rechaçado pela administração Pozzobom.
QUEM É
Formado em Educação Física pela UFSM, Ribas é uma voz técnica que se habituou a falar com naturalidade acerca de especificidades burocráticas e técnicas da saúde - como portarias e regramentos próprios do funcionamento do Sistema Único de Saúde (SUS).
Hoje, com 34 anos e filiado ao PSDB, o primeiro contato com a saúde veio em 2013. À época, ele fez, por dois anos, residência multiprofissional na secretaria. Já em 2016, quando a pasta era comandada pela enfermeira do Husm Vânia Olivo, Ribas virou chefe de gabinete.
APOSTA
No começo do governo Pozzobom, seguiu na função. Dois anos depois, assumiu como adjunto, e, logo, foi alçado à titularidade. Ribas desfruta de boa relação com os servidores da pasta, o que lhe garante confiança para atuar em um dos momentos mais difíceis enfrentados da secretaria: a pandemia de coronavírus.
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O teste de fogo veio há 15 meses, quando Santa Maria se inseriu no contexto global da Covid-19. Como tudo que é novo e que traz questionamentos e dúvidas, Guilherme Ribas se viu frente a um revés da pasta, que passou a estar guarnecida por todo o núcleo-duro da gestão Pozzzobom (PSDB).
No centro das decisões nevrálgicas, frente ao avanço da pandemia ao longo destes mais de 450 dias, Guilherme Ribas foi alçado à condição de um dos principais secretários da gestão tucana. Se o apoio do chefe do Executivo municipal estava garantido, o mesmo, em parte, refletia-se "dentro da casa". Ou seja, na Secretaria de Saúde. Em uma pasta considerada um nicho com muito corporativismo e certo ativismo político-partidário, Ribas consegue transitar com certa facilidade e com apoio dos servidores da secretaria.
TIME FECHADO
O bom trânsito que Ribas usufrui não se deve ao fato de ele ter uma boa oratória. Aliás, a fala dele é, não raro, motivo para que se complique. Ainda que não se considere avesso a falar com a imprensa, o secretário já protagonizou falas desencontradas e que acabaram endossando a abertura da CPI da Covid. Porém, quando alguns dizem que ele tem o "time fechado", muito disso passa, entretanto, pelos nomes que o cercam: a secretária-adjunta da Saúde, Ana Paula Seerig, e a coordenadora do Setor de Imunização, Cecília Pedro. As credenciais dessas duas profissionais são consideradas determinantes na aceitação de Ribas por boa parte dos servidores.
- Ele (Ribas) tem uma coisa que a gente da saúde admira muito: conhecimento da pasta. Já tivemos secretários que, antes, sabiam falar muito bem com vocês (da imprensa). Mas, aqui dentro, não sabiam nada. Ele, para a secretaria, funciona muito bem - conta uma servidora com mais de duas décadas de experiência na pasta.
TERMÔMETRO
O Diário, nas últimas três semanas, ouviu mais de duas dezenas de servidores para mapear o que faz do secretário um nome com aceitação dentro da secretaria. Mesmo sem passagem pela iniciativa privada, Ribas soube montar um aparato interno e externo, em meio à pandemia, que o habilitam a estar na condição de principal secretário do governo ao lado do prefeito Pozzobom na luta contra a Covid-19.
APOIO QUE NÃO SE ESTENDE AO GOVERNO
Longe de ser unanimidade, Guilherme Ribas tem o quinhão dele dentro da pasta da Saúde. Entretanto, o apoio que desfruta, pelo que o Diário apurou, fica restrito a ele. Ou seja, não se estende ao prefeito Pozzobom ou a qualquer outro secretário ou integrante do paço municipal.
Há algumas questões que pesam para haver essa diferenciação acerca de Ribas que, a princípio, representa um mesmo governo: o trato com os funcionários, a "defesa" dos integrantes das mais variadas "pontas" do funcionamento do SUS - do posto de saúde à UPA -, a construção de uma rede de atuação com mais de 200 voluntários nas ações de imunização contra a Covid-19.
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- O secretário conseguiu montar, mérito dele e da equipe, uma rede coesa e unida para fazer a imunização da população. É claro que os problemas aconteceram: tivemos filas, demoramos para decidir alguns grupos a serem vacinados, ficamos com doses que poderiam ter sido aplicadas com mais rapidez. Mas agimos sempre com as orientações e recomendações dos órgãos de saúde do Estado e da União - relata uma funcionária que está na empreitada desde janeiro.
RESSALVA
A aceitação, que não deixa de lhe render críticas, é um ganho que Ribas poderia "potencializar" se ele soubesse "se impor mais". Para essa fonte, que trabalha diretamente com Guilherme Ribas, "há muita tentativa de interferência" dentro dos rumos da pasta, principalmente agora, em função da pandemia.
- O Guilherme é um cara que tem o nosso apoio e reconhecimento. Ele nos ouve. Tem assuntos que não vamos conseguir opinar, porque é ele quem decide. Mas ele domina a pasta. O que nos incomoda é que tentam querer se meter em tudo da Secretaria da Saúde - conta o servidor que atua na antessala do secretário.
CONDUÇÃO E GESTÃO QUE NÃO VEEM O TODO
À frente da pasta no pior momento da história de Santa Maria, onde o município, a exemplo do país e do mundo, está inserido num contexto pandêmico, as críticas existem e são ásperas contra Guilherme Ribas. Para aqueles que são contrários ao nome do educador físico, a permanência dele na pasta é um equívoco que se mantém e que, ao fim da Covid-19, deve ser corrigido pelo prefeito Pozzobom.
- Ele (Ribas) segue porque tem memória da pasta. Mas qualquer um, com mais tempo em uma secretaria, acaba "ganhando" memória. A gestão dele não é boa, é travada, e agora tudo é "só" Covid - avalia um profissional concursado.
Na mesma linha desse servidor, um outro colega, que atua em um posto de saúde da região leste da cidade, entende que há um passivo da secretaria junto a uma série de programas e de ações que, nos últimos anos, não tiveram o enfrentamento do governo municipal. Para esse integrante da saúde do município, "com a pandemia", a prefeitura "esqueceu" de tratar, por exemplo, de ampliar o número de equipes de Estratégia Saúde da Família (ESF) e de avançar na Atenção Primária.
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- Nem o básico é feito. As unidades de saúde carecem de estrutura mínima para dar atendimento à população e dignidade ao servidor para trabalhar - avalia esse servidor que afirma ter trabalhado "em toda" a saúde.
SEM UM PADRÃO
Outros três servidores que trabalham em setores administrativos, operacionais e "na linha de frente" de atendimento à população dizem que os problemas da saúde do município "não são de agora", mas que foram agravados pela gestão Pozzobom.
- Eu não digo que a culpa é do secretário Guilherme Ribas, mas há outros que, antes dele, não conseguiram fazer o básico. Agora, em meio ao coronavírus e, depois, quando a pandemia acabar, será pior organizar a casa. Pode ser que ele consiga. Mas a saúde de Santa Maria largou mal, lá atrás ainda. O Pozzobom assumiu a saúde só para se aparecer. Os demais que vieram em nada agregaram - resume o servidor de uma UBS.
NÃO UMA, MAS DUAS CPIS PELO CAMINHO
Formada por 15 vereadores, a oposição ao governo Pozzobom no Legislativo é atuante e combativa. Prova são as três CPIs abertas em tempo recorde e quase que concomitantemente. Nos bastidores da Casa, mesmo que não pela totalidade dos parlamentares, fala-se que a administração tucana tenta criar uma cortina de fumaça, colocando os servidores como escudo para qualquer ação que possa ser questionada pelos vereadores à gestão.
No entendimento de alguns parlamentares, o governo incita os funcionários públicos contra a Câmara, especialmente os ligados à saúde.
INVESTIGAÇÕES
No Legislativo, as CPIs da Covid-19 e a dos pronto-atendimentos apuram possíveis irregularidades do governo. Em ambas, a ação de servidores não é investigada, mas, de certa forma, está ligada.
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A primeira porque são os funcionários da saúde e voluntários que estão à frente da vacinação, e a segunda porque são servidores que atuam nos pronto-atendimentos (PA do Patronato, PA do Bairro Tancredo Neves e UPA).
FOCO ESPECÍFICO
Presidente da CPI da Covid-19 e relatora da CPI dos pronto-atendimentos, a vereadora Roberta Leitão (PP) ressalta que nenhuma comissão foi criada para investigar servidor, mas, assim como outros vereadores oposicionistas, ela entende que a administração municipal usa os funcionários para se proteger de eventuais situações, como das fiscalizações promovidas pelos parlamentares:
- Sempre respeitamos os servidores. Fiscalizar é nosso dever institucional. Sabemos que muitos servidores estão cansados e estressados. O que buscamos é o atendimento de saúde de qualidade à população e estrutura adequada para o trabalho dos servidores, e vamos cobrar isso.